Desempenho tarja preta: medicalização da vida e espírito empresarial na sociedade contemporânea

Desempenho tarja preta: medicalização da vida e espírito empresarial na sociedade contemporânea

Desempenho tarja preta: medicalização da vida e espírito empresarial na sociedade contemporânea

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Com o crescente estímulo, por meio dos discursos midiáticos, a construir a si mesmos de maneira altamente performática e vendável, os indivíduos vêm se utilizando de outros artifícios além de esportes, terapias, coaching e "leituras empoderadoras": os medicamentos controlados, indicados para tratar patologias específicas, que estão sendo apropriados por sujeitos aparentemente saudáveis em busca de tonificar capacidades e revigorar a disposição para a expansão constante dos limites.



Neste livro, a hipótese é a de que esse entorpecimento social se apoia numa retórica mercadológica que prescreve investimentos constantes no “capital humano”, rotulando como patológico qualquer comportamento considerado falho ou desviante com relação às exigências do sistema de produção atual - notadamente nas últimas décadas, sobretudo desde os anos 1990, com a ascensão do novo espírito do capitalismo. Tanto o surgimento de algumas doenças quanto o alto consumo de drogas lícitas visando à otimização do desempenho seriam efeitos de certas práticas discursivas e dos mecanismos de poder específicos da nossa época.



Esta é denominada "era da performance" por muitos pesquisadores, por se tratar de um momento histórico que "registra pressões inéditas sobre os corpos e as subjetividades", como postula a pesquisadora Paula Sibilia (autora da ), instando-os a superar os próprios desempenhos constantemente, sempre em busca da excelência em todas as instâncias da vida.



Marianna Jorge destaca como a palavra performance é cultuada e celebrada, o que pode ser verificado numa breve consulta por meio do Google, que apresenta amplo arsenal de reportagens. Performance surge, segundo a autora, "como um termo mágico, um elixir do sucesso, da produtividade, da autorrealização e da felicidade" e "uma espécie de ideal de conduta, que deve ser almejado, seguido e conquistado".



A expressão compõe os títulos dos mais diversos segmentos editorais nas duas últimas décadas. De manuais sobre administração de empresas e recursos humanos a livros sobre artes, educação física, sonoridades, desempenho cerebral, orientação pessoal, familiar e educacional. Todos parecem apresentar o mesmo objetivo: prescrever modelos de gestão e de alto desempenho específicos para cada uma dessas competências, compatíveis com as exigências atuais.



São crenças e ideais de conduta propagados pela mídia – muitas vezes apoiada em discurso cientificista –, com efeitos de verdade, sobre o que devemos ser e sobre como devemos nos conceber, sendo eles compatíveis com as demandas empresariais vigentes. Não se limitam a descrever o perfil desejado; costumam prescrever e aconselhar a respeito de sua obtenção, algo considerado ao alcance de todos e de qualquer um, e sugerir que o sujeito até pode cair ou perder alguma batalha cotidiana, mas deve saber se reerguer.



Nem todos podem participar dessa atmosfera consumista, nem terão o mesmo êxito. Muitos são tomados por mal-estares, dissabores e culpabilizações individuais, que podem resultar em ansiedade generalizada e distúrbios típicos do mundo atual, como depressão, síndrome do pânico, anorexia, bulimia e comportamentos obsessivos e compulsivos. Em ambos os casos, a solução parece ser a mesma: o recurso à medicalização.
Características
Autor Marianna Ferreira Jorge
Biografia Com o crescente estímulo, por meio dos discursos midiáticos, a construir a si mesmos de maneira altamente performática e vendável, os indivíduos vêm se utilizando de outros artifícios além de esportes, terapias, coaching e "leituras empoderadoras": os medicamentos controlados, indicados para tratar patologias específicas, que estão sendo apropriados por sujeitos aparentemente saudáveis em busca de tonificar capacidades e revigorar a disposição para a expansão constante dos limites.



Neste livro, a hipótese é a de que esse entorpecimento social se apoia numa retórica mercadológica que prescreve investimentos constantes no “capital humano”, rotulando como patológico qualquer comportamento considerado falho ou desviante com relação às exigências do sistema de produção atual - notadamente nas últimas décadas, sobretudo desde os anos 1990, com a ascensão do novo espírito do capitalismo. Tanto o surgimento de algumas doenças quanto o alto consumo de drogas lícitas visando à otimização do desempenho seriam efeitos de certas práticas discursivas e dos mecanismos de poder específicos da nossa época.



Esta é denominada "era da performance" por muitos pesquisadores, por se tratar de um momento histórico que "registra pressões inéditas sobre os corpos e as subjetividades", como postula a pesquisadora Paula Sibilia (autora da ), instando-os a superar os próprios desempenhos constantemente, sempre em busca da excelência em todas as instâncias da vida.



Marianna Jorge destaca como a palavra performance é cultuada e celebrada, o que pode ser verificado numa breve consulta por meio do Google, que apresenta amplo arsenal de reportagens. Performance surge, segundo a autora, "como um termo mágico, um elixir do sucesso, da produtividade, da autorrealização e da felicidade" e "uma espécie de ideal de conduta, que deve ser almejado, seguido e conquistado".



A expressão compõe os títulos dos mais diversos segmentos editorais nas duas últimas décadas. De manuais sobre administração de empresas e recursos humanos a livros sobre artes, educação física, sonoridades, desempenho cerebral, orientação pessoal, familiar e educacional. Todos parecem apresentar o mesmo objetivo: prescrever modelos de gestão e de alto desempenho específicos para cada uma dessas competências, compatíveis com as exigências atuais.



São crenças e ideais de conduta propagados pela mídia – muitas vezes apoiada em discurso cientificista –, com efeitos de verdade, sobre o que devemos ser e sobre como devemos nos conceber, sendo eles compatíveis com as demandas empresariais vigentes. Não se limitam a descrever o perfil desejado; costumam prescrever e aconselhar a respeito de sua obtenção, algo considerado ao alcance de todos e de qualquer um, e sugerir que o sujeito até pode cair ou perder alguma batalha cotidiana, mas deve saber se reerguer.



Nem todos podem participar dessa atmosfera consumista, nem terão o mesmo êxito. Muitos são tomados por mal-estares, dissabores e culpabilizações individuais, que podem resultar em ansiedade generalizada e distúrbios típicos do mundo atual, como depressão, síndrome do pânico, anorexia, bulimia e comportamentos obsessivos e compulsivos. Em ambos os casos, a solução parece ser a mesma: o recurso à medicalização.
Comprimento 23
Edição 1
Editora EDITORA DA UFF
ISBN 9788522812547
Largura 16
Páginas 176

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