Espirais da Loucura: Cornélio Penna e Clarice Lispector
Espirais da Loucura: Cornélio Penna e Clarice Lispector
- EditoraMAUAD X
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Cornélio Penna (1896-1958) e Clarice Lispector (1920-1977) não são exatamente da mesma geração de escritores, mas são de gerações que se conheceram e compartilharam certo intimismo, um gosto pela introspecção, um interesse por refletir menos sobre fatos e mais por estados mentais. Ambos escreveram romances nos quais prevalece um olhar sobre as mulheres, mulheres que flutuam entre a realidade e a loucura - uma loucura que às vezes é libertação e em outras é prisão.
A menina morta (1954), o romance de Cornélio Penna aqui analisado, realiza a loucura em diversas dimensões: da metafórica, passando pela patológica e atingindo a própria narração. Portanto, está além de uma mera questão temática, pois toca a construção do livro. Nessa medida, mais do que denunciar a escravidão e o patriarcado que assolaram - e ainda assolam - o Brasil, a loucura estaria a serviço de mostrar como esses sistemas interferiram na nossa forma de produzir literatura e até de existir. Ou seja, mesmo dizendo muito, podemos estar dizendo pouco ou de maneira alucinada aquilo que nos constitui enquanto nação - uma nação comprometida desde as bases.
Em Clarice Lispector, no recorte hermenêutico aqui apresentado, a loucura assume protagonismo como elo comum entre algumas personagens presentes em seus romances. Seria a loucura oposta à lucidez? Ou seria a loucura uma das formas lúcidas de se posicionar frente à esmagadora lógica do sentido que busca reduzir a liberdade a uma categoria ou deliberação puramente racional do indivíduo? Essas são algumas questões possíveis de serem postuladas a partir do confronto entre a escrita clariciana e certos aspectos filosóficos que, desde a Antiguidade grega, passando pela tradição judaico-cristã, figuram como reflexões que redimensionam a loucura, de seu aspecto puramente patológico, para uma perspectiva em que esta é pensada como expressão de transgressão e liberdade.
A menina morta (1954), o romance de Cornélio Penna aqui analisado, realiza a loucura em diversas dimensões: da metafórica, passando pela patológica e atingindo a própria narração. Portanto, está além de uma mera questão temática, pois toca a construção do livro. Nessa medida, mais do que denunciar a escravidão e o patriarcado que assolaram - e ainda assolam - o Brasil, a loucura estaria a serviço de mostrar como esses sistemas interferiram na nossa forma de produzir literatura e até de existir. Ou seja, mesmo dizendo muito, podemos estar dizendo pouco ou de maneira alucinada aquilo que nos constitui enquanto nação - uma nação comprometida desde as bases.
Em Clarice Lispector, no recorte hermenêutico aqui apresentado, a loucura assume protagonismo como elo comum entre algumas personagens presentes em seus romances. Seria a loucura oposta à lucidez? Ou seria a loucura uma das formas lúcidas de se posicionar frente à esmagadora lógica do sentido que busca reduzir a liberdade a uma categoria ou deliberação puramente racional do indivíduo? Essas são algumas questões possíveis de serem postuladas a partir do confronto entre a escrita clariciana e certos aspectos filosóficos que, desde a Antiguidade grega, passando pela tradição judaico-cristã, figuram como reflexões que redimensionam a loucura, de seu aspecto puramente patológico, para uma perspectiva em que esta é pensada como expressão de transgressão e liberdade.
Características | |
Ano de publicação | 2024 |
Autor | Cicero Cunha Bezerra, Josalba dos Santos |
Biografia | Cornélio Penna (1896-1958) e Clarice Lispector (1920-1977) não são exatamente da mesma geração de escritores, mas são de gerações que se conheceram e compartilharam certo intimismo, um gosto pela introspecção, um interesse por refletir menos sobre fatos e mais por estados mentais. Ambos escreveram romances nos quais prevalece um olhar sobre as mulheres, mulheres que flutuam entre a realidade e a loucura - uma loucura que às vezes é libertação e em outras é prisão. A menina morta (1954), o romance de Cornélio Penna aqui analisado, realiza a loucura em diversas dimensões: da metafórica, passando pela patológica e atingindo a própria narração. Portanto, está além de uma mera questão temática, pois toca a construção do livro. Nessa medida, mais do que denunciar a escravidão e o patriarcado que assolaram - e ainda assolam - o Brasil, a loucura estaria a serviço de mostrar como esses sistemas interferiram na nossa forma de produzir literatura e até de existir. Ou seja, mesmo dizendo muito, podemos estar dizendo pouco ou de maneira alucinada aquilo que nos constitui enquanto nação - uma nação comprometida desde as bases. Em Clarice Lispector, no recorte hermenêutico aqui apresentado, a loucura assume protagonismo como elo comum entre algumas personagens presentes em seus romances. Seria a loucura oposta à lucidez? Ou seria a loucura uma das formas lúcidas de se posicionar frente à esmagadora lógica do sentido que busca reduzir a liberdade a uma categoria ou deliberação puramente racional do indivíduo? Essas são algumas questões possíveis de serem postuladas a partir do confronto entre a escrita clariciana e certos aspectos filosóficos que, desde a Antiguidade grega, passando pela tradição judaico-cristã, figuram como reflexões que redimensionam a loucura, de seu aspecto puramente patológico, para uma perspectiva em que esta é pensada como expressão de transgressão e liberdade. |
Comprimento | 21 |
Edição | 1 |
Editora | MAUAD X |
ISBN | 9786553771161 |
Lançamento | 19/03/2024 |
Largura | 14 |
Páginas | 140 |