Graciosidade e estagnação: ensaios escolhidos

Graciosidade e estagnação: ensaios escolhidos

Graciosidade e estagnação: ensaios escolhidos

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Renomeada como "estudos culturais", "humanidades" e outros nomes evasivos, a investigação da literatura e da arte parece ter virado as costas às promessas da "educação estética" de Schiller e, mais ainda, a investigações em torno de valores profundamente humanos como Anmut und Würde [graça e dignidade], supostamente inerentes à arte e justificativa para seu estudo e sua prática.

O que resta, então, para o professor? O que justifica a existência do acadêmico? Eis o dilema do crítico de arte e professor de literatura, (in)voluntariamente acuado no papel do "intelectual público": somos condenados a enfrentar as pirâmides enciclopédicas de conceitos e conhecimentos, perdendo de vista a arte? O que é arte? A arte mesma, a poesia? Ela é graça, graça pura, sem mais nem menos. Talvez lhe coubesse tão somente o famoso aforismo do místico Jacob Boehme: "A rosa é sem porquê"...

Há vários momentos que preparam o que hoje chamamos de pós-modernidade ? mais especificamente, a mistura de exaltante liberação e de resignação diante da desaceleração do tempo, que torna possível (pelo menos em tese) contemplarmos todos os momentos numa simultaneidade... É claro que a era digital e o Vale do Silício souberam dar um lustro (quase) real (ou hiper-real) a esse sonho de presença total e de "fim da história". Tudo indica que ocorreu uma mudança de paradigma histórico, que estamos (ou estaríamos) em um novo cronótopo ? o da simultaneidade e da estagnação. O que não é dito, nessa pretensão que renova num registro melancólico as apostas de Hegel no movimento lógico do conceito, é o fato de que a copresença e a simultaneidade valem tão somente para o próprio movimento lógico. Quem sabe pairar nesse tempo-sem-tempo é a "intuição intelectual", como se dizia há duzentos anos, evitando elegantemente o nome de Deus: o que é verdadeiro em tese não vale para seres finitos, históricos e híbridos (corpo, alma e intelecto) como nós.

Como, nessas condições, pensar a história e, mais ainda, a história dos conceitos? Gumbrecht passa em revista alguns dos expoentes marcantes do século XX, de Heidegger e Koselleck, de Blumenberg a Haverkamp (entre outros), antes de recorrer à intuição de um grande poeta: Heinrich Von Kleist. Com a ajuda do pensamento estético desse representante da grande tradição poeto-lógica, Gumbrecht desvencilha-se novamente dos sofismas centrais das teorias pós-estruturalistas, como a incognoscibilidade do real e o novo cronótopo. O último capítulo, "Graciosidade e jogo: por que não é preciso entender a dança", nos extrai com uma pirueta graciosa do dilema inicial e reafirma, numa linguagem contemporânea, o que os grandes artistas, antes e depois de Schiller, consideraram como o cerne da arte e da crítica.
Características
Autor HANS ULRICH GUMBRECHT
Biografia Renomeada como "estudos culturais", "humanidades" e outros nomes evasivos, a investigação da literatura e da arte parece ter virado as costas às promessas da "educação estética" de Schiller e, mais ainda, a investigações em torno de valores profundamente humanos como Anmut und Würde [graça e dignidade], supostamente inerentes à arte e justificativa para seu estudo e sua prática.

O que resta, então, para o professor? O que justifica a existência do acadêmico? Eis o dilema do crítico de arte e professor de literatura, (in)voluntariamente acuado no papel do "intelectual público": somos condenados a enfrentar as pirâmides enciclopédicas de conceitos e conhecimentos, perdendo de vista a arte? O que é arte? A arte mesma, a poesia? Ela é graça, graça pura, sem mais nem menos. Talvez lhe coubesse tão somente o famoso aforismo do místico Jacob Boehme: "A rosa é sem porquê"...

Há vários momentos que preparam o que hoje chamamos de pós-modernidade ? mais especificamente, a mistura de exaltante liberação e de resignação diante da desaceleração do tempo, que torna possível (pelo menos em tese) contemplarmos todos os momentos numa simultaneidade... É claro que a era digital e o Vale do Silício souberam dar um lustro (quase) real (ou hiper-real) a esse sonho de presença total e de "fim da história". Tudo indica que ocorreu uma mudança de paradigma histórico, que estamos (ou estaríamos) em um novo cronótopo ? o da simultaneidade e da estagnação. O que não é dito, nessa pretensão que renova num registro melancólico as apostas de Hegel no movimento lógico do conceito, é o fato de que a copresença e a simultaneidade valem tão somente para o próprio movimento lógico. Quem sabe pairar nesse tempo-sem-tempo é a "intuição intelectual", como se dizia há duzentos anos, evitando elegantemente o nome de Deus: o que é verdadeiro em tese não vale para seres finitos, históricos e híbridos (corpo, alma e intelecto) como nós.

Como, nessas condições, pensar a história e, mais ainda, a história dos conceitos? Gumbrecht passa em revista alguns dos expoentes marcantes do século XX, de Heidegger e Koselleck, de Blumenberg a Haverkamp (entre outros), antes de recorrer à intuição de um grande poeta: Heinrich Von Kleist. Com a ajuda do pensamento estético desse representante da grande tradição poeto-lógica, Gumbrecht desvencilha-se novamente dos sofismas centrais das teorias pós-estruturalistas, como a incognoscibilidade do real e o novo cronótopo. O último capítulo, "Graciosidade e jogo: por que não é preciso entender a dança", nos extrai com uma pirueta graciosa do dilema inicial e reafirma, numa linguagem contemporânea, o que os grandes artistas, antes e depois de Schiller, consideraram como o cerne da arte e da crítica.
Comprimento 21
Edição 1
Editora EDITORA CONTRAPONTO
ISBN 9788578660499
Largura 14
Páginas 128

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