Segundo o diretor e roteirista Vincent Viney: "Quando você lê alguma coisa escrita por Trostsky, Borges, Vonnegut, Miller, Proust ou Garcia Márquez se estabelece uma explícita cumplicidade como resultado da admiração prévia que geralmente precede ao encontro entre o autor preferido e o leitor. E isso é bom.

Porém, quando chega a suas mãos o material escrito por um idealista desconhecido, uma pessoa que não está catalogada dentro dos parâmetros pré-estabelecidos pelas tendências e apetites de sempre, você pode vir a descobrir que uma outra visão de informações comuns pode ser transformada através de frases não tão comuns.

Como pode um autor novo perambular pela pela gramática dando novos formatos aos reiterados conceitos do cotidiano tão conhecido?

Pode um jovem escritor ignorar os precedentes?

É possível que este escritor desconheça as regras eternamente impostas e constantemente mantidas?

Como pode um autor ser tão limpo de espírito para habitar numa montanha que ninguém enxerga? Como é que ele pode morar numa montanha situada tão longe da realidade conceitual, tão distante dos mornos apetites de mentes preguiçosas frente a desafios imprevistos?

Como pode Fernando Farah ser um autor tão engenhosamente transgressor num mundo que não acredita na fantasia do intuitivo?

Fernando consegue narrar com um novo formato as imagens que supomos conhecer. Ele consegue decifrar os labirintos da miséria e da histeria coletiva numa colagem aritimética de passagens nascidas numa fonte inesgotável de informações óbvias a respeito de comportamentos tangíveis na superfície e incontroláveis no subconsciente.

A mensagem de Fernando chega no galope de um apocalipse Wagneriano. Seus textos nos empurram descarnadamente para um novo conceito. Seus contos nos encontram desprevenidos.

De repente, estamos numa estrada desconhecida, eletrizante e esmagadora. Não existem parâmetros. Não há como recorrer às referências que normalmente nos ajudam e protegem quando nos deparamos com o imprevisível.

Desavisados leitores, a insegurança pune nossa falta de horizontes criativos. Levamos então uma lição que esmaga nossa soberba. Então...algo estupendo acontece...

De repente, descobrimos que estamos frente a uma experiência que nos perturba, porém, trata-se de uma realidade que nos escolhe como detectores de um movimento que pode ser um selo indelével na nossa bagagem literária. Estamos frente a um autor que nos pertence!

Este é o tempo de Fernando. Assim sendo, este é o nosso tempo também.

Este é o livro dele. Este é o livro de seus novos leitores. Um livro que ele escreveu do topo de sua montanha.

Uma montanha que já estava situada dentro do apetite do nosso intelecto. "