Poses e posturas: Performances de gênero e sexualidade na literatura brasileira (1850-1950
Poses e posturas: Performances de gênero e sexualidade na literatura brasileira (1850-1950
- EditoraALAMEDA
- Modelo: 9V61992
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R$ 94,00
Um livro sobre gênero e sexualidade na literatura produzida no Brasil entre fins do século XIX e meados do XX. Também uma obra na qual as performances de gênero e sexualidade são usadas para discutir o caráter nacional e as novas imagens de masculinidade e família; o papel da imprensa na difusão de identidades heterodissidentes; as relações entre modernidade e cosmopolitismo, bem como certos consensos da historiografia literária.
Cobrindo um arco histórico que vai de Joaquim Manuel de Macedo a Mário de Andrade, passando por Raul Pompeia, João do Rio e José Lins do Rego; apoiado em extensa pesquisa de artigos científicos, de críticos brasileiros, latino-americanos e anglófonos, bem como de material de imprensa, Braga-Pinto descortina com enorme originalidade um possível panorama da literatura queer brasileira.
Prova disso é a liberdade para discordar de importantes críticos de gerações anteriores — como Walnice Nogueira Galvão, cujo estudo sobre a “donzela guerreira” omite menções à sexualidade e ao desejo homoerótico, ou Davi Arrigucci Jr., para quem a penetração de Oscar Wilde no Brasil teria ocorrido de maneira supostamente “tardia e fantasmagórica” —, ao mesmo tempo em que aproveita contribuições de críticos estrangeiros, como a argentina Sylvia Molloy, de quem o autor empresta a noção de “pose” que dá título ao livro.
Chamam também a atenção certo humor e o rasgo imaginativo, presente por exemplo na reerotização de um romance como o moleque Ricardo, ou a especulação desoladora sobre o suicídio como um possível destino comunal para artistas cujo desejo divergente produz impasses insolúveis. Difícil dizer o que mais me surpreendeu ou agradou no conjunto de ensaios.
Arrisco-me, contudo, a destacar o tríptico sobre o autor de Macunaíma, sobretudo o ensaio inicial, que, denunciando a homofobia na recepção crítica do autor, resiste à expectativa de tirar “Mário do armário”, interpretando-a como sintoma tardio da tara autoritária das nosografias oitocentistas e da vontade de controlar “o corpo e a sexualidade dissidente”.
Enaltecendo o valor de mediação inerente ao armário e ao segredo nestes tempos tão marcados por antagonismos irredutíveis que nos impelem escolher um lado e odiar o outro, Braga-Pinto destaca a ambiguidade, a estranheza e a sobredeterminação distintivas da expressão artística, que pedem do leitor uma atenção paciente e aberta ao múltiplo. Só por meio dela Mário pode se apresentar como trezentos-e-cinquenta: arlequinal e fatal; gay e pansexual; católico, antropófago, freudiano; feito de dor e felicidade, de Tietê e Uraricoera; girassol e bicho blau, um escritor que veste a máscara e dá de ombros para seguir sendo, sem revelações nem desmentidos, “tudo o que vocês quiserem”.
Cobrindo um arco histórico que vai de Joaquim Manuel de Macedo a Mário de Andrade, passando por Raul Pompeia, João do Rio e José Lins do Rego; apoiado em extensa pesquisa de artigos científicos, de críticos brasileiros, latino-americanos e anglófonos, bem como de material de imprensa, Braga-Pinto descortina com enorme originalidade um possível panorama da literatura queer brasileira.
Prova disso é a liberdade para discordar de importantes críticos de gerações anteriores — como Walnice Nogueira Galvão, cujo estudo sobre a “donzela guerreira” omite menções à sexualidade e ao desejo homoerótico, ou Davi Arrigucci Jr., para quem a penetração de Oscar Wilde no Brasil teria ocorrido de maneira supostamente “tardia e fantasmagórica” —, ao mesmo tempo em que aproveita contribuições de críticos estrangeiros, como a argentina Sylvia Molloy, de quem o autor empresta a noção de “pose” que dá título ao livro.
Chamam também a atenção certo humor e o rasgo imaginativo, presente por exemplo na reerotização de um romance como o moleque Ricardo, ou a especulação desoladora sobre o suicídio como um possível destino comunal para artistas cujo desejo divergente produz impasses insolúveis. Difícil dizer o que mais me surpreendeu ou agradou no conjunto de ensaios.
Arrisco-me, contudo, a destacar o tríptico sobre o autor de Macunaíma, sobretudo o ensaio inicial, que, denunciando a homofobia na recepção crítica do autor, resiste à expectativa de tirar “Mário do armário”, interpretando-a como sintoma tardio da tara autoritária das nosografias oitocentistas e da vontade de controlar “o corpo e a sexualidade dissidente”.
Enaltecendo o valor de mediação inerente ao armário e ao segredo nestes tempos tão marcados por antagonismos irredutíveis que nos impelem escolher um lado e odiar o outro, Braga-Pinto destaca a ambiguidade, a estranheza e a sobredeterminação distintivas da expressão artística, que pedem do leitor uma atenção paciente e aberta ao múltiplo. Só por meio dela Mário pode se apresentar como trezentos-e-cinquenta: arlequinal e fatal; gay e pansexual; católico, antropófago, freudiano; feito de dor e felicidade, de Tietê e Uraricoera; girassol e bicho blau, um escritor que veste a máscara e dá de ombros para seguir sendo, sem revelações nem desmentidos, “tudo o que vocês quiserem”.
Características | |
Autor | César Braga-Pinto |
Biografia | Um livro sobre gênero e sexualidade na literatura produzida no Brasil entre fins do século XIX e meados do XX. Também uma obra na qual as performances de gênero e sexualidade são usadas para discutir o caráter nacional e as novas imagens de masculinidade e família; o papel da imprensa na difusão de identidades heterodissidentes; as relações entre modernidade e cosmopolitismo, bem como certos consensos da historiografia literária. Cobrindo um arco histórico que vai de Joaquim Manuel de Macedo a Mário de Andrade, passando por Raul Pompeia, João do Rio e José Lins do Rego; apoiado em extensa pesquisa de artigos científicos, de críticos brasileiros, latino-americanos e anglófonos, bem como de material de imprensa, Braga-Pinto descortina com enorme originalidade um possível panorama da literatura queer brasileira. Prova disso é a liberdade para discordar de importantes críticos de gerações anteriores — como Walnice Nogueira Galvão, cujo estudo sobre a “donzela guerreira” omite menções à sexualidade e ao desejo homoerótico, ou Davi Arrigucci Jr., para quem a penetração de Oscar Wilde no Brasil teria ocorrido de maneira supostamente “tardia e fantasmagórica” —, ao mesmo tempo em que aproveita contribuições de críticos estrangeiros, como a argentina Sylvia Molloy, de quem o autor empresta a noção de “pose” que dá título ao livro. Chamam também a atenção certo humor e o rasgo imaginativo, presente por exemplo na reerotização de um romance como o moleque Ricardo, ou a especulação desoladora sobre o suicídio como um possível destino comunal para artistas cujo desejo divergente produz impasses insolúveis. Difícil dizer o que mais me surpreendeu ou agradou no conjunto de ensaios. Arrisco-me, contudo, a destacar o tríptico sobre o autor de Macunaíma, sobretudo o ensaio inicial, que, denunciando a homofobia na recepção crítica do autor, resiste à expectativa de tirar “Mário do armário”, interpretando-a como sintoma tardio da tara autoritária das nosografias oitocentistas e da vontade de controlar “o corpo e a sexualidade dissidente”. Enaltecendo o valor de mediação inerente ao armário e ao segredo nestes tempos tão marcados por antagonismos irredutíveis que nos impelem escolher um lado e odiar o outro, Braga-Pinto destaca a ambiguidade, a estranheza e a sobredeterminação distintivas da expressão artística, que pedem do leitor uma atenção paciente e aberta ao múltiplo. Só por meio dela Mário pode se apresentar como trezentos-e-cinquenta: arlequinal e fatal; gay e pansexual; católico, antropófago, freudiano; feito de dor e felicidade, de Tietê e Uraricoera; girassol e bicho blau, um escritor que veste a máscara e dá de ombros para seguir sendo, sem revelações nem desmentidos, “tudo o que vocês quiserem”. |
Comprimento | 23 |
Edição | 1 |
Editora | ALAMEDA |
ISBN | 9786559661992 |
Largura | 16 |
Páginas | 322 |