Distâncias do cinema, As

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Jacques Rancière não se considera um filósofo do cinema, um teórico do cinema ou um crítico de cinema. Antes, vê-se como um amador, para quem o cinema, sendo um campo múltiplo e heterogêneo, só pode se constituir na encruzilhada entre experiências, afetos e saberes, entre arte, trabalho e coletividade. Ser um amador, e defender essa posição como política, significa então afirmar que o cinema é "um sistema de distâncias irredutíveis entre coisas que têm o mesmo nome sem serem membros de um mesmo corpo".

Notável pensador da política, da imagem, da literatura e das artes, neste livro os encontros de Rancière com o cinema se dão por meio de três distâncias: a distância entre cinema e teoria, entre cinema e arte e entre cinema e política. Mas se engana quem supõe que o encontro em questão visa a suprimir essas distâncias. Para Rancière, a distância, ou a separação, é a condição mesma de toda relação. Sendo o cinema, em sua heterogeneidade, um "espaço comum de pensamento", trata-se então de novas mensurações, de ora reduzir, ora repor as distâncias, isto é, de aproximar o que estava distante ou de se distanciar do excessivamente próximo.

Ao afirmar que o cinema só existe como uma "fronteira instável que, para existir, precisa ser sempre atravessada", Rancière dedica-se a uma análise que transita pelo interior de diferentes experiências cinematográficas sem submetê-las a enquadramentos conceituais preexistentes. Nessas passagens e tensões, nessas aproximações e distanciamentos entre cineastas tão diversos como Hitchcock, Vertov, Bresson, Minnelli, Rossellini, Straub e Pedro Costa, está a afirmação de que o cinema só é arte contanto que seja mundo: mundo compartilhado para além da realidade material de suas projeções e habitado por formas de vida que são políticas quando são também capazes de estar à altura do que vivem.

Ilana Feldman

Jacques Rancière é um dos filósofos mais respeitados da atualidade. Professor emérito da Universidade Paris VIII (St. Denis), dedicou-se a pesquisas sobre as classes operárias francesas e lutas políticas marginalizadas da história oficial. Atualmente tem explorado as relações entre estética e política, com ênfase nas artes visuais, em livros como "Le Destin des images" (publicado pela Contraponto), "La Partage du sensible", "Le Spectateur emancipe" e "Aisthesis. Scènes du régime esthétique de l´art".

"Para mim, escrever sobre cinema é assumir ao mesmo tempo duas posições contraditórias. A primeira é que não há nenhum conceito que reúna todos esses cinemas, nenhuma teoria que unifique todos os problemas que eles suscitam. [...] Já a outra posição diz, ao inverso, [...] que o pensamento do cinema é o que circula nesse espaço, pensa no meio dessas distâncias e se esforça para determinar este ou aquele vínculo entre dois cinemas ou dois ?problemas de cinema´. Esta é a posição do amador. [...] A política do amador afirma que o cinema pertence a todos aqueles que, de uma maneira ou de outra, viajaram dentro do sistema de distâncias que seu nome permite e que cada um pode traçar [...], pois uma arte nunca é apenas uma arte; sempre é, ao mesmo tempo, uma proposta de mundo."
Características
Autor JACQUES RANCIERE
Biografia Jacques Rancière não se considera um filósofo do cinema, um teórico do cinema ou um crítico de cinema. Antes, vê-se como um amador, para quem o cinema, sendo um campo múltiplo e heterogêneo, só pode se constituir na encruzilhada entre experiências, afetos e saberes, entre arte, trabalho e coletividade. Ser um amador, e defender essa posição como política, significa então afirmar que o cinema é "um sistema de distâncias irredutíveis entre coisas que têm o mesmo nome sem serem membros de um mesmo corpo".

Notável pensador da política, da imagem, da literatura e das artes, neste livro os encontros de Rancière com o cinema se dão por meio de três distâncias: a distância entre cinema e teoria, entre cinema e arte e entre cinema e política. Mas se engana quem supõe que o encontro em questão visa a suprimir essas distâncias. Para Rancière, a distância, ou a separação, é a condição mesma de toda relação. Sendo o cinema, em sua heterogeneidade, um "espaço comum de pensamento", trata-se então de novas mensurações, de ora reduzir, ora repor as distâncias, isto é, de aproximar o que estava distante ou de se distanciar do excessivamente próximo.

Ao afirmar que o cinema só existe como uma "fronteira instável que, para existir, precisa ser sempre atravessada", Rancière dedica-se a uma análise que transita pelo interior de diferentes experiências cinematográficas sem submetê-las a enquadramentos conceituais preexistentes. Nessas passagens e tensões, nessas aproximações e distanciamentos entre cineastas tão diversos como Hitchcock, Vertov, Bresson, Minnelli, Rossellini, Straub e Pedro Costa, está a afirmação de que o cinema só é arte contanto que seja mundo: mundo compartilhado para além da realidade material de suas projeções e habitado por formas de vida que são políticas quando são também capazes de estar à altura do que vivem.

Ilana Feldman

Jacques Rancière é um dos filósofos mais respeitados da atualidade. Professor emérito da Universidade Paris VIII (St. Denis), dedicou-se a pesquisas sobre as classes operárias francesas e lutas políticas marginalizadas da história oficial. Atualmente tem explorado as relações entre estética e política, com ênfase nas artes visuais, em livros como "Le Destin des images" (publicado pela Contraponto), "La Partage du sensible", "Le Spectateur emancipe" e "Aisthesis. Scènes du régime esthétique de l´art".

"Para mim, escrever sobre cinema é assumir ao mesmo tempo duas posições contraditórias. A primeira é que não há nenhum conceito que reúna todos esses cinemas, nenhuma teoria que unifique todos os problemas que eles suscitam. [...] Já a outra posição diz, ao inverso, [...] que o pensamento do cinema é o que circula nesse espaço, pensa no meio dessas distâncias e se esforça para determinar este ou aquele vínculo entre dois cinemas ou dois ?problemas de cinema´. Esta é a posição do amador. [...] A política do amador afirma que o cinema pertence a todos aqueles que, de uma maneira ou de outra, viajaram dentro do sistema de distâncias que seu nome permite e que cada um pode traçar [...], pois uma arte nunca é apenas uma arte; sempre é, ao mesmo tempo, uma proposta de mundo."
Comprimento 21
Edição 2
Editora EDITORA CONTRAPONTO
ISBN 9788578660703
Largura 14
Páginas 168

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