Imagem, ícone, economia: As fontes bizantinas do imaginário contemporâneo
Imagem, ícone, economia: As fontes bizantinas do imaginário contemporâneo
- EditoraEDITORA CONTRAPONTO
- Modelo: CO60925
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Nos séculos VIII e IX, em plena crise decorrente do iconoclasmo bizantino, a imagem se tornou uma problemática filosófica e política pela primeira vez na história ocidental. Numa violenta arena de disputas, entre seu culto e sua proibição, ela virou o cerne de uma questão passional.
Nesse período, a Igreja se viu obrigada a produzir um relato da situação teológica da imagem religiosa que, no entanto, não poderia levantar a mais leve suspeita de idolatria. A solução encontrada foi uma doutrina inspirada na configuração da imagem de Deus, natural e invisível, num ícone, artificial e visível, decalcado de Cristo. Essa "transfiguração" foi adaptada à realidade em carne viva dos aflitos seres humanos.
A partir dessa peculiar "encarnação" da imagem no corpus christi surgiu uma matriz icônica que seria capaz de definir toda uma cultura baseada na gestão simultânea do invisível e do visível. Uma complexa economia perfeitamente construída, que serviu de base para a estratégia política e pedagógica do poder temporal eclesiástico na administração das paixões de uma comunidade, sob a égide da divina providência.
Trata-se de um dispositivo de governo calcado na comunhão dos corpos e das almas em torno de uma instituição totalitária. Um império que se ergueu a partir de "visibilidades programáticas", feitas para transmitir uma única mensagem. Essa imagética também serviu para sustentar as operações de "incorporação": a imagem era absorvida como uma substância com a qual o fiel fascinado, ou "incorporado", se identificava e se fundia, sem réplica e sem palavras. Esse conjunto de imagens construiu um reinado de dolorosas submissões, silenciamentos e impossibilidade de objeções.
Para analisar os processos que constituíram tal iconocracia, Marie-José Mondzain realiza um exame minucioso de textos antigos dos campos da filosofia e da teologia, tendo como leitura principal os Antirréticos, escritos entre 818 e 820 d.C por Nicéforo, um patriarca de Constantinopla que endereçou seu pensamento "à natureza de toda imagem e à impossibilidade de pensar e governar sem ela".
A aposta deste surpreendente livro de Mondzain é revelar o modo pelo qual o imaginário contemporâneo ? nossas maneiras de produzir e apreender as imagens ? tem suas fontes na crise do iconoclasmo bizantino, propiciando uma percepção dos efeitos de continuidade e de ruptura na administração das visibilidades que atravessam as diversas corporações do visível no presente.
Nesse período, a Igreja se viu obrigada a produzir um relato da situação teológica da imagem religiosa que, no entanto, não poderia levantar a mais leve suspeita de idolatria. A solução encontrada foi uma doutrina inspirada na configuração da imagem de Deus, natural e invisível, num ícone, artificial e visível, decalcado de Cristo. Essa "transfiguração" foi adaptada à realidade em carne viva dos aflitos seres humanos.
A partir dessa peculiar "encarnação" da imagem no corpus christi surgiu uma matriz icônica que seria capaz de definir toda uma cultura baseada na gestão simultânea do invisível e do visível. Uma complexa economia perfeitamente construída, que serviu de base para a estratégia política e pedagógica do poder temporal eclesiástico na administração das paixões de uma comunidade, sob a égide da divina providência.
Trata-se de um dispositivo de governo calcado na comunhão dos corpos e das almas em torno de uma instituição totalitária. Um império que se ergueu a partir de "visibilidades programáticas", feitas para transmitir uma única mensagem. Essa imagética também serviu para sustentar as operações de "incorporação": a imagem era absorvida como uma substância com a qual o fiel fascinado, ou "incorporado", se identificava e se fundia, sem réplica e sem palavras. Esse conjunto de imagens construiu um reinado de dolorosas submissões, silenciamentos e impossibilidade de objeções.
Para analisar os processos que constituíram tal iconocracia, Marie-José Mondzain realiza um exame minucioso de textos antigos dos campos da filosofia e da teologia, tendo como leitura principal os Antirréticos, escritos entre 818 e 820 d.C por Nicéforo, um patriarca de Constantinopla que endereçou seu pensamento "à natureza de toda imagem e à impossibilidade de pensar e governar sem ela".
A aposta deste surpreendente livro de Mondzain é revelar o modo pelo qual o imaginário contemporâneo ? nossas maneiras de produzir e apreender as imagens ? tem suas fontes na crise do iconoclasmo bizantino, propiciando uma percepção dos efeitos de continuidade e de ruptura na administração das visibilidades que atravessam as diversas corporações do visível no presente.
Características | |
Autor | MARIE-JOSÉ MONDZAIN |
Biografia | Nos séculos VIII e IX, em plena crise decorrente do iconoclasmo bizantino, a imagem se tornou uma problemática filosófica e política pela primeira vez na história ocidental. Numa violenta arena de disputas, entre seu culto e sua proibição, ela virou o cerne de uma questão passional. Nesse período, a Igreja se viu obrigada a produzir um relato da situação teológica da imagem religiosa que, no entanto, não poderia levantar a mais leve suspeita de idolatria. A solução encontrada foi uma doutrina inspirada na configuração da imagem de Deus, natural e invisível, num ícone, artificial e visível, decalcado de Cristo. Essa "transfiguração" foi adaptada à realidade em carne viva dos aflitos seres humanos. A partir dessa peculiar "encarnação" da imagem no corpus christi surgiu uma matriz icônica que seria capaz de definir toda uma cultura baseada na gestão simultânea do invisível e do visível. Uma complexa economia perfeitamente construída, que serviu de base para a estratégia política e pedagógica do poder temporal eclesiástico na administração das paixões de uma comunidade, sob a égide da divina providência. Trata-se de um dispositivo de governo calcado na comunhão dos corpos e das almas em torno de uma instituição totalitária. Um império que se ergueu a partir de "visibilidades programáticas", feitas para transmitir uma única mensagem. Essa imagética também serviu para sustentar as operações de "incorporação": a imagem era absorvida como uma substância com a qual o fiel fascinado, ou "incorporado", se identificava e se fundia, sem réplica e sem palavras. Esse conjunto de imagens construiu um reinado de dolorosas submissões, silenciamentos e impossibilidade de objeções. Para analisar os processos que constituíram tal iconocracia, Marie-José Mondzain realiza um exame minucioso de textos antigos dos campos da filosofia e da teologia, tendo como leitura principal os Antirréticos, escritos entre 818 e 820 d.C por Nicéforo, um patriarca de Constantinopla que endereçou seu pensamento "à natureza de toda imagem e à impossibilidade de pensar e governar sem ela". A aposta deste surpreendente livro de Mondzain é revelar o modo pelo qual o imaginário contemporâneo ? nossas maneiras de produzir e apreender as imagens ? tem suas fontes na crise do iconoclasmo bizantino, propiciando uma percepção dos efeitos de continuidade e de ruptura na administração das visibilidades que atravessam as diversas corporações do visível no presente. |
Comprimento | 23 |
Edição | 1 |
Editora | EDITORA CONTRAPONTO |
ISBN | 9788578660925 |
Largura | 16 |
Páginas | 318 |