Publicado originalmente em 1995, este livro estende e confere hoje novos sentidos a um longo desdobramento teórico sustentado desde então por Denise Maurano acerca dos elementos próprios à clínica psicanalítica. Revisto em sua escrita, mas não em sua estrutura e nas bases de sua investigação, bem como atento à recepção e a novas edições das obras de Sigmund Freud e Jacques Lacan em português, inaugura uma trilogia de obras que, ao entrelaçar lógica e organicamente desejo, amor e gozo, empenham-se em lançar luz sobre o que orienta o psicanalista em sua clínica, na teorização dessa prática e em intervenções pontuais na cultura.

Nessa trilogia, elabora-se uma detalhada investigação sobre o entrelaçamento desses três modos de expressão pulsional, referidos, respectivamente, ao início, ao percurso e à conclusão de uma análise, assentando-se limites éticos e estéticos do que cabe fazer com eles, vale dizer, descartadas promessas de uma realização absoluta do desejo, da completude do amor ou de um gozo pleno. Em face da dimensão enigmática e insondável do que resta e falta ao sermos arrancados de nossa prematuração biológica pela linguagem, conforma-se, distinto da realidade, um real de cujas incidências não há como escapar.

Trata-se, portanto, de um real a ser experimentado na carne, mas também transmitido, de que as potencialidades, tal como Freud o revelou ao se calar diante do que suas pacientes histéricas lhe diziam, ganham o mundo pela voz daqueles que se dispõem a tratá-lo, sem que isso, como se constata a cada experiência psicanalítica levada a termo, redunde na vontade de querer, em nome de soluções mais convenientes, neutralizá-lo, convertê-lo ou mesmo eliminá-lo.