Uma menina carioca passa dois anos numa pequena e luminosa capital do Nordeste e começa a descobrir-se a si mesma, às suas origens familiares e inclusive ao mundo. O universo de sua imaginação maravilhada, dos contatos cotidianos com outros seres, do choque e da integração com o que vive um dia após o outro se tece na diversidade que revolve as percepções de si mesma.
A memória, a um só tempo verdade e ficção, sonho e realidade, guarda, com seu duplo poder de documentar e metamorfosear, a experiência dessa época que respira inocência e felicidade, alegria e espanto. Convertido em linguagem evocatória e reflexiva, esse feixe de lembranças constitui a verdade, a beleza e o encanto primeiros deste Coração de menina.
De volta ao Rio, a menina procede a outras descobertas: a de seu nome, sugerido por Manuel Bandeira, a de sua cidade natal e a do meio familiar e social em que passa a viver. Um lar literário. Conhece então algumas das figuras mais privilegiadas da vida cultural brasileira e surgem novas experiências: a adolescência, no conturbado período da ditadura militar, e a juventude, em busca de seus próprios horizontes.
Recontado, o coração da infância aflora numa voz pela qual se pontuam os traços que narram os tempos de sua história. Em sua singeleza, o desfile dos grandes poetas e escritores que conheceu acaba por tornar-se uma contribuição surpreendente à história literária brasileira. A menina, em seu encanto, vê-se num litoral cujo ondear aninha as sensações que deixaram de vagar.