É raro encontrarmos um livro de poemas com tantas histórias para contar. Com suas narrativas divididas muito apropriadamente entre “Promessas”, “Loucura”, “Paixão amorosa”, “Literatura” e “Estrangeiro”, Cleo Vaz apresenta um livro vigoroso e surpreendente, desde o fortíssimo “A carne” logo na abertura, passando por variados cenários – do Rio de Janeiro ou de outras viagens – e referências, reverberando na memória, revelando uma visão arguta do mundo e do ser humano em todas as suas pulsões e desejos, e flertando ainda com uma certa (auto?)biografia talvez vivida, talvez imaginada, por trás de cada história e de cada personagem. Se o romance Vera Ballroom, lançado em 2020, já trazia uma mistura interessante de gêneros, flertando com o ensaio e com a psicanálise, a poesia de Enxadrezados reafirma o talento e a originalidade de uma escritora acima de qualquer rótulo.

“[…] não hesito em afirmar que um dos grandes méritos do livro é nos ajudar a compreender melhor nossa percepção do corpo alheio (nos tempos atuais, de pandemia, visto como ameaça e contágio), nossa percepção do próprio corpo (nos tempos atuais, algo que devemos proteger, não expor, mascarar), nossa percepção do espaço (nos tempos atuais, algo entre o confinamento e o con-fim do mundo), e principalmente, por conta da potência de tantos corpos e tantas vidas contidas aqui, por conta da revisitação de tantos lugares, da zona norte à zona sul, por conta de tantos deslocamentos motivados por tantos desejos, Enxadrezados nos ajuda a recapacitar nossas faculdades imaginativas, oferecendo assim a instigação necessária para tornarmos a poder pensar, criativamente, em um futuro. Um futuro fora do xadrez do confinamento, livres sob o xadrez de estrelas.” [Carlito Azevedo]