Geração Armada: Literatura e resistência em Angola e no Brasil
Geração Armada: Literatura e resistência em Angola e no Brasil
- EditoraALAMEDA
- Modelo: 9V93273
- Disponibilidade: Em estoque
R$ 51,00
R$ 60,00
Para mim, a literatura continua sendo aquilo que nos salva, inclusive de nós mesmos. Da nossa humanidade tão difícil.”
Estas belas palavras são da autora desta obra, quase no seu encerramento, comentando a distância de dez anos entre a conclusão de sua dissertação de mestrado, que é a matriz desta publicação, e sua edição definitiva agora, sob a forma de livro.
De certo modo, esta observação cabe também como síntese dos testemunhos que ela, Marina, analisa, de dois ex-guerrilheiros escritores ou vice-versa, Pepetela em Angola, e Carlos Eugênio Paz no Brasil.
São muitos os aspectos abordados neste livro indispensável para quem quiser se debruçar sobre a história da luta armada em ambos os países, suas ressonâncias nas respectivas literaturas e também sobre a ressonância do empreendimento literário na leitura dos eventos históricos passados.
O fulcro da reflexão de Marina acerca da experiência da guerrilha e a posterior experiência literária está no cotejo comparativo entre duas opções éticas com a consequente recuperação da história pela “estética do testemunho”.
As duas opções éticas são a da decisão de aderir à luta armada e, depois, a de narrar esta adesão e suas consequências, pesando suas contradições, trajetórias, impasses, fracassos e conquistas. A estética do testemunho impõe o redimensionamento da experiência pessoal pela construção ficcional, ao invés do outro caminho, que seria o do depoimento autobiográfico.
A opção estética alarga os horizontes do depoimento, permite o desdobramento do ponto de vista dos autores e dá mais liberdade para a reflexão a posteriori sobre o que de fato aconteceu, e também sobre o que era projeto, mas deixou de acontecer, e as cicatrizes destas fricções que se dão no campo da memória.
A leitura comparativa – e muito rica pelo cotejo que faz – de Marina lembra dois títulos da trilogia de Isaac Deutscher que narra a biografia de Leon Trotsky. O primeiro título é o da “Derrota na vitória”, do livro O profeta armado. Ele recobre a experiência dos guerrilheiros e do narrador em terceira pessoa (mas que procura dar voz à intimidade de seus personagens através do indireto livre) diante da conquista de seu objetivo primeiro – a independência de Angola – mas do fracasso de seu projeto de transformação radical da sociedade em que viveram ou vivem. A Angola independente não é o país socialista que almejavam, mas continua devorado pelas contradições da sociedade capitalista que eles desejavam combater e revirar de pernas para o ar. A percepção deste “vazio” transparece nas palavras do ex-guerrilheiro Aníbal: “perdi poucas batalhas, mas sou um vencido”.
Já o título seguinte, “Vitória na derrota”, do livro O profeta banido, se aplica à trajetória do guerrilheiro fictício Clamart, um alter ego do Clemente em que Carlos Eugênio se transformou ao aderir à luta armada. Clamart perdeu quase todas as batalhas em que entrou; perdeu a guerra. Mas depois do furacão enfrenta outra tempestade, esta íntima, que é a da reconstrução da memória, no esforço de sobrepujar o esquecimento individual e coletivo. Neste sentido, a sua narrativa é uma vitória, não ocultando nem mesmo os duros embates éticos e antiéticos que sua opção lhe apresentou.
Ao fim e ao cabo deparamos com três vitoriosos, que encaram as contradições dos momentos que viveram. Os dois autores dos livros cotejados, e a leitora crítica e perspicaz que é Marina Ruivo, cujo cotejo entre as obras ressalta as peculiaridades de cada uma, dentro do esforço comum de transformar o mundo que elas guardam e reiteram por meio da reconstrução da memória.
Estas belas palavras são da autora desta obra, quase no seu encerramento, comentando a distância de dez anos entre a conclusão de sua dissertação de mestrado, que é a matriz desta publicação, e sua edição definitiva agora, sob a forma de livro.
De certo modo, esta observação cabe também como síntese dos testemunhos que ela, Marina, analisa, de dois ex-guerrilheiros escritores ou vice-versa, Pepetela em Angola, e Carlos Eugênio Paz no Brasil.
São muitos os aspectos abordados neste livro indispensável para quem quiser se debruçar sobre a história da luta armada em ambos os países, suas ressonâncias nas respectivas literaturas e também sobre a ressonância do empreendimento literário na leitura dos eventos históricos passados.
O fulcro da reflexão de Marina acerca da experiência da guerrilha e a posterior experiência literária está no cotejo comparativo entre duas opções éticas com a consequente recuperação da história pela “estética do testemunho”.
As duas opções éticas são a da decisão de aderir à luta armada e, depois, a de narrar esta adesão e suas consequências, pesando suas contradições, trajetórias, impasses, fracassos e conquistas. A estética do testemunho impõe o redimensionamento da experiência pessoal pela construção ficcional, ao invés do outro caminho, que seria o do depoimento autobiográfico.
A opção estética alarga os horizontes do depoimento, permite o desdobramento do ponto de vista dos autores e dá mais liberdade para a reflexão a posteriori sobre o que de fato aconteceu, e também sobre o que era projeto, mas deixou de acontecer, e as cicatrizes destas fricções que se dão no campo da memória.
A leitura comparativa – e muito rica pelo cotejo que faz – de Marina lembra dois títulos da trilogia de Isaac Deutscher que narra a biografia de Leon Trotsky. O primeiro título é o da “Derrota na vitória”, do livro O profeta armado. Ele recobre a experiência dos guerrilheiros e do narrador em terceira pessoa (mas que procura dar voz à intimidade de seus personagens através do indireto livre) diante da conquista de seu objetivo primeiro – a independência de Angola – mas do fracasso de seu projeto de transformação radical da sociedade em que viveram ou vivem. A Angola independente não é o país socialista que almejavam, mas continua devorado pelas contradições da sociedade capitalista que eles desejavam combater e revirar de pernas para o ar. A percepção deste “vazio” transparece nas palavras do ex-guerrilheiro Aníbal: “perdi poucas batalhas, mas sou um vencido”.
Já o título seguinte, “Vitória na derrota”, do livro O profeta banido, se aplica à trajetória do guerrilheiro fictício Clamart, um alter ego do Clemente em que Carlos Eugênio se transformou ao aderir à luta armada. Clamart perdeu quase todas as batalhas em que entrou; perdeu a guerra. Mas depois do furacão enfrenta outra tempestade, esta íntima, que é a da reconstrução da memória, no esforço de sobrepujar o esquecimento individual e coletivo. Neste sentido, a sua narrativa é uma vitória, não ocultando nem mesmo os duros embates éticos e antiéticos que sua opção lhe apresentou.
Ao fim e ao cabo deparamos com três vitoriosos, que encaram as contradições dos momentos que viveram. Os dois autores dos livros cotejados, e a leitora crítica e perspicaz que é Marina Ruivo, cujo cotejo entre as obras ressalta as peculiaridades de cada uma, dentro do esforço comum de transformar o mundo que elas guardam e reiteram por meio da reconstrução da memória.
Características | |
Autor | MARINA RUIVO |
Biografia | Para mim, a literatura continua sendo aquilo que nos salva, inclusive de nós mesmos. Da nossa humanidade tão difícil.” Estas belas palavras são da autora desta obra, quase no seu encerramento, comentando a distância de dez anos entre a conclusão de sua dissertação de mestrado, que é a matriz desta publicação, e sua edição definitiva agora, sob a forma de livro. De certo modo, esta observação cabe também como síntese dos testemunhos que ela, Marina, analisa, de dois ex-guerrilheiros escritores ou vice-versa, Pepetela em Angola, e Carlos Eugênio Paz no Brasil. São muitos os aspectos abordados neste livro indispensável para quem quiser se debruçar sobre a história da luta armada em ambos os países, suas ressonâncias nas respectivas literaturas e também sobre a ressonância do empreendimento literário na leitura dos eventos históricos passados. O fulcro da reflexão de Marina acerca da experiência da guerrilha e a posterior experiência literária está no cotejo comparativo entre duas opções éticas com a consequente recuperação da história pela “estética do testemunho”. As duas opções éticas são a da decisão de aderir à luta armada e, depois, a de narrar esta adesão e suas consequências, pesando suas contradições, trajetórias, impasses, fracassos e conquistas. A estética do testemunho impõe o redimensionamento da experiência pessoal pela construção ficcional, ao invés do outro caminho, que seria o do depoimento autobiográfico. A opção estética alarga os horizontes do depoimento, permite o desdobramento do ponto de vista dos autores e dá mais liberdade para a reflexão a posteriori sobre o que de fato aconteceu, e também sobre o que era projeto, mas deixou de acontecer, e as cicatrizes destas fricções que se dão no campo da memória. A leitura comparativa – e muito rica pelo cotejo que faz – de Marina lembra dois títulos da trilogia de Isaac Deutscher que narra a biografia de Leon Trotsky. O primeiro título é o da “Derrota na vitória”, do livro O profeta armado. Ele recobre a experiência dos guerrilheiros e do narrador em terceira pessoa (mas que procura dar voz à intimidade de seus personagens através do indireto livre) diante da conquista de seu objetivo primeiro – a independência de Angola – mas do fracasso de seu projeto de transformação radical da sociedade em que viveram ou vivem. A Angola independente não é o país socialista que almejavam, mas continua devorado pelas contradições da sociedade capitalista que eles desejavam combater e revirar de pernas para o ar. A percepção deste “vazio” transparece nas palavras do ex-guerrilheiro Aníbal: “perdi poucas batalhas, mas sou um vencido”. Já o título seguinte, “Vitória na derrota”, do livro O profeta banido, se aplica à trajetória do guerrilheiro fictício Clamart, um alter ego do Clemente em que Carlos Eugênio se transformou ao aderir à luta armada. Clamart perdeu quase todas as batalhas em que entrou; perdeu a guerra. Mas depois do furacão enfrenta outra tempestade, esta íntima, que é a da reconstrução da memória, no esforço de sobrepujar o esquecimento individual e coletivo. Neste sentido, a sua narrativa é uma vitória, não ocultando nem mesmo os duros embates éticos e antiéticos que sua opção lhe apresentou. Ao fim e ao cabo deparamos com três vitoriosos, que encaram as contradições dos momentos que viveram. Os dois autores dos livros cotejados, e a leitora crítica e perspicaz que é Marina Ruivo, cujo cotejo entre as obras ressalta as peculiaridades de cada uma, dentro do esforço comum de transformar o mundo que elas guardam e reiteram por meio da reconstrução da memória. |
Comprimento | 23 |
Edição | 1 |
Editora | ALAMEDA |
ISBN | 9788579393273 |
Largura | 16 |
Páginas | 292 |