É possível decifrar um gato? Não. Portanto, não pense que este é um manual para compreender felinos. Neste Gatário, Alvaro Senra recorda as diferentes personalidades de gatos que transitaram por sua vida. Ou que ao percorrerem o próprio caminho, depararam-se com Alvaro e não o desprezaram. Talvez não tanto assim.

De Guimarães Rosa a Julio Cortázar, gatos sempre encantaram escritores, sendo inspiração para os seus textos. Por meio da observação, próxima ou distante – pois nem sempre eles são adeptos dos toques –, neste livro o autor renuncia a qualquer domínio sobre os felinos e atua como espectador da vida alheia, descrevendo os variados comportamentos, alguns esquisitos, dos gatos que em algum momento passaram por sua vida.

Esses, como Alvaro, andaram da Baixada Fluminense a Niterói, desviando por Belo Horizonte. Por vezes atravessando muros e telhados, cruzando quintais ou dormindo na eterna calma dissimulada em janelas teladas de apartamentos.

Nestas páginas, é perceptível que não é apenas o narrador que observa os gatos. O contrário também ocorre, como se algum felino planejasse descobrir o que pairava no pensamento de quem o olhava para, talvez, na realidade paralela dos gatos, escrever um humanário. É possível decifrar um escritor?

De Julio Cortázar a Alvaro Senra, escritores sempre se fascinaram com gatos, sem conseguir decifrá-los. Mas conseguem imortalizá-los em sua escrita. É o que acontece neste Gatário.