Nervos de mar
Sempre à procura do poema, o autor se apresenta como alguém de extrema atenção à luz e à sombra, e especula através da linguagem uma espécie de delicadeza inaugural. O papel da solidão é fundamental para adentrar os “confins do pensamento”, onde Afonso Henriques Neto surpreende tanto pela riqueza semântica quanto pela musicalidade: em meio a versos líricos como pensamento sem ossos/ sem estrelas, há ricas aliterações: ranjo e rujo escuro/raio raiva sombria lava. O poema “Aqui do alto” utiliza o recurso da anáfora e opera de maneira bela, enaltecendo igualmente sua forma e conteúdo estruturados em tercetos.
Este livro se realiza, talvez, em duas diretrizes: por vezes, a partir daquilo que não é exatamente visto, mas sentido.
O silêncio, o vento, o desvão, o eterno, o que nunca enxergamos na tarde a cair, braços vazios que não encontram nada. Outras vezes pelo arroubo de imagens em listas hiperbólicas, como no poema “Coleção”: Lâmina de rasgar nervos, a samambaia-azul, o pênis de seda, as eras geológicas, vestido da moda com bordados radioativos, o caderno sem memória, três brincos dourados e a pulseira de caveiras.
Alternando entre os polos negativo e positivo, entre o cheio e o vazio, é assim que o visível e o invisível germinam nestes inusitados versos. O cinema e a pintura também possuem seu lugar (sobretudo na segunda parte), onde o poeta também envereda para outras experimentações.
Se para os poetas não é possível traduzir/alcançar a unidade, “o todo”, ao menos é permitido que a luz entre. Ao deixar que a imaginação seja invadida por uma fresta de luz, aproximamos a experiência da escrita na ferida do indizível, e finalmente divididos entre a sombra e o claro, esbarramos no raro saber, onde as palavras nascem em estranhas escrituras.
Este livro se realiza, talvez, em duas diretrizes: por vezes, a partir daquilo que não é exatamente visto, mas sentido.
O silêncio, o vento, o desvão, o eterno, o que nunca enxergamos na tarde a cair, braços vazios que não encontram nada. Outras vezes pelo arroubo de imagens em listas hiperbólicas, como no poema “Coleção”: Lâmina de rasgar nervos, a samambaia-azul, o pênis de seda, as eras geológicas, vestido da moda com bordados radioativos, o caderno sem memória, três brincos dourados e a pulseira de caveiras.
Alternando entre os polos negativo e positivo, entre o cheio e o vazio, é assim que o visível e o invisível germinam nestes inusitados versos. O cinema e a pintura também possuem seu lugar (sobretudo na segunda parte), onde o poeta também envereda para outras experimentações.
Se para os poetas não é possível traduzir/alcançar a unidade, “o todo”, ao menos é permitido que a luz entre. Ao deixar que a imaginação seja invadida por uma fresta de luz, aproximamos a experiência da escrita na ferida do indizível, e finalmente divididos entre a sombra e o claro, esbarramos no raro saber, onde as palavras nascem em estranhas escrituras.
Características | |
Autor | Afonso Henriques Neto |
Biografia | Sempre à procura do poema, o autor se apresenta como alguém de extrema atenção à luz e à sombra, e especula através da linguagem uma espécie de delicadeza inaugural. O papel da solidão é fundamental para adentrar os “confins do pensamento”, onde Afonso Henriques Neto surpreende tanto pela riqueza semântica quanto pela musicalidade: em meio a versos líricos como pensamento sem ossos/ sem estrelas, há ricas aliterações: ranjo e rujo escuro/raio raiva sombria lava. O poema “Aqui do alto” utiliza o recurso da anáfora e opera de maneira bela, enaltecendo igualmente sua forma e conteúdo estruturados em tercetos. Este livro se realiza, talvez, em duas diretrizes: por vezes, a partir daquilo que não é exatamente visto, mas sentido. O silêncio, o vento, o desvão, o eterno, o que nunca enxergamos na tarde a cair, braços vazios que não encontram nada. Outras vezes pelo arroubo de imagens em listas hiperbólicas, como no poema “Coleção”: Lâmina de rasgar nervos, a samambaia-azul, o pênis de seda, as eras geológicas, vestido da moda com bordados radioativos, o caderno sem memória, três brincos dourados e a pulseira de caveiras. Alternando entre os polos negativo e positivo, entre o cheio e o vazio, é assim que o visível e o invisível germinam nestes inusitados versos. O cinema e a pintura também possuem seu lugar (sobretudo na segunda parte), onde o poeta também envereda para outras experimentações. Se para os poetas não é possível traduzir/alcançar a unidade, “o todo”, ao menos é permitido que a luz entre. Ao deixar que a imaginação seja invadida por uma fresta de luz, aproximamos a experiência da escrita na ferida do indizível, e finalmente divididos entre a sombra e o claro, esbarramos no raro saber, onde as palavras nascem em estranhas escrituras. |
Comprimento | 21 |
Edição | 1 |
Editora | 7 LETRAS |
ISBN | 9786559057603 |
Largura | 14 |
Páginas | 148 |