PALADARES PACIFICOS
Durante anos, nos diversos países europeus onde vivi, habituei-me o cozinhar com os ingredientes e os recipientes que ia conseguindo arranjar, mantendo-me mais ou menos fiel aos métodos chineses básicos, tais como a cozinha a vapor ou o chao chao. Mas, como faltavam muitos produtos, havia muito lugar para improvisações. E, à medida que fui conhecendo melhor os ingredientes e os hábitos culinários dos países onde me encontrava, ia-me sentindo mais à vontade para experimentar: buscando inspirações locais aqui e ali e, às vezes até, a uma terceira tradição. Foi assim que nasceram certos pratos de fusão - como a carne de porco picada com bacalhau a vapor ou o tofu com tomates e pinhões. No curso do tempo fui também conhecendo outras pessoas gulosas, fui aprendendo receitas que já tinham passado por muitas mãos -raramente cheguei a saber a fonte original. E o caso do frango fumado ao café. cuja receita me foi dada, na Bélgica, por uma amiga chinesa. Em suma. este livro é uma acumulação de memórias e vivências: certos pratos faziam parte da minha infância mais íntima, outros são resultado de encontros acidentais, outros ainda de experiências lúdicas ou da simples adaptação pragmática. Certos são de invenção minha: outros, da mais variada e anónima autoria. São receitas basicamente chinesas com influências de origens diversas: japonesas, vietnamitas, tailandesas, etc., com os ingredientes que se encontram cá na Europa. São pratos caseiros escolhidos a partir de 3 critérios: serem simples, saborosos e saudáveis. Como a comida partilhada sabe sempre melhor, quero partilhar estas receitas com outras pessoas que também gostam de cozinhar, de brincar e de comer como eu. Mónica Chan De partida para a escola, os pequenos almoços eram sumptuosos - leitinho, ovos ou linguiça, torradinha para empurrar com um reforço de manteiga e a cor de um qualquer doce. Assim nos preparavam os dias que se esticavam longos e cheios de actividades. Com a ajuda de um provável bolo a meio da manhã, aguentavam-nos até ao almoço. Nos recreios, aulas de ginástica e bailei, os saltos e correrias consumiam alegremente as calorias do que então se pensava ser uma alimentação adequada. Lá em casa, onde éramos cinco irmãos sempre com muitos convidados, o empadão, a massa com carne guisada, as feijoadas ricas com enchidos, o indispensável cozido à Portuguesa, sucediam-se. Nos jantares mais requintados surgiam as tradições de cozinha alemã, herdadas da família do Pai, com os deliciosos fritos de batata acompanhados de açúcar ou doce de morango. "Como não engordar, como não engordar?" Na minha ignorância, tentava com muito desporto cortar alguns dos alimentos. Quando, no final dos anos 70, acabei o curso de Medicina, fui mandada lá para o norte da Serra da Estrela fazer o estágio de Saúde Pública. Fui viver para Infias, uma aldeia despegada de Fornos de Algodres - onde a lareira virou fogão e os requeijões frescos me encheram a cara de bochechas. Nesse momento, sentindo que estava na fronteira de desequilíbrio com o peso, decidi cortar as massas! A pós-graduaçao levou-me a Nova Iorque, e a pequena reserva de peso que levava, desapareceu logo na primeira semana de trabalho no hospital. Fora as horríveis refeições hospitalares, o que se comia em casa era o que transportávamos nas nossas memórias: bifes, batatas, saladas, tartes, e até mesmo uns croquetes e bacalhau no forno. Mas escasseava o tempo. A duração excessiva da preparação de alguns dos nossos pratos favoritos tornou-se óbvia. Quando, no início dos anos noventa, voltei para Lisboa conheci a Yuan - a excelente professora do primeiro curso de Chinês na Missão de Macau. Tornou-se uma amiga. Era divertido vê-la funcionar: chegava a casa, entrava na cozinha e daqui a nada já estava! Os ingredientes eram exóticos, bonitos e com paladares variadíssimos. Comprei um wok, uns livros de cozinha e toca a imitá-la. O wok tem a vantagem de ser rápido, pode usar-se pouco óleo, pode servir para cozer a vapor e dá-se bem com especiarias de todo o mundo. Foi então que comecei a interessar-me, não só pela confecção, mas também pêlos aspectos nutritivos do que comia. Finalmente, aprendi que não era a massa que me engordava mas os requeijões gordos de Infías, os bifes com batatas fritas e as sobremesas cheias de ovos e açúcares. O empreendimento de escrever este livro nasceu, não só da minha curiosidade sobre nutrição, mas essencialmente da possibilidade de poder observar e aprender com a bem sucedida eficiência culinária da Mónica. Minnie Freudenthal Índice Glossário Entradas Sopas Peixes e Mariscos Aves Carnes Tofu e Ovos Massas e Arroz Legumes Sobremesas Sugestões de Infusões Consulte uma das receitas deste livro.
Características | |
Ano de publicação | 2004 |
Autor | GONCALVES, INES |
Biografia | Durante anos, nos diversos países europeus onde vivi, habituei-me o cozinhar com os ingredientes e os recipientes que ia conseguindo arranjar, mantendo-me mais ou menos fiel aos métodos chineses básicos, tais como a cozinha a vapor ou o chao chao. Mas, como faltavam muitos produtos, havia muito lugar para improvisações. E, à medida que fui conhecendo melhor os ingredientes e os hábitos culinários dos países onde me encontrava, ia-me sentindo mais à vontade para experimentar: buscando inspirações locais aqui e ali e, às vezes até, a uma terceira tradição. Foi assim que nasceram certos pratos de fusão - como a carne de porco picada com bacalhau a vapor ou o tofu com tomates e pinhões. No curso do tempo fui também conhecendo outras pessoas gulosas, fui aprendendo receitas que já tinham passado por muitas mãos -raramente cheguei a saber a fonte original. E o caso do frango fumado ao café. cuja receita me foi dada, na Bélgica, por uma amiga chinesa. Em suma. este livro é uma acumulação de memórias e vivências: certos pratos faziam parte da minha infância mais íntima, outros são resultado de encontros acidentais, outros ainda de experiências lúdicas ou da simples adaptação pragmática. Certos são de invenção minha: outros, da mais variada e anónima autoria. São receitas basicamente chinesas com influências de origens diversas: japonesas, vietnamitas, tailandesas, etc., com os ingredientes que se encontram cá na Europa. São pratos caseiros escolhidos a partir de 3 critérios: serem simples, saborosos e saudáveis. Como a comida partilhada sabe sempre melhor, quero partilhar estas receitas com outras pessoas que também gostam de cozinhar, de brincar e de comer como eu. Mónica Chan De partida para a escola, os pequenos almoços eram sumptuosos - leitinho, ovos ou linguiça, torradinha para empurrar com um reforço de manteiga e a cor de um qualquer doce. Assim nos preparavam os dias que se esticavam longos e cheios de actividades. Com a ajuda de um provável bolo a meio da manhã, aguentavam-nos até ao almoço. Nos recreios, aulas de ginástica e bailei, os saltos e correrias consumiam alegremente as calorias do que então se pensava ser uma alimentação adequada. Lá em casa, onde éramos cinco irmãos sempre com muitos convidados, o empadão, a massa com carne guisada, as feijoadas ricas com enchidos, o indispensável cozido à Portuguesa, sucediam-se. Nos jantares mais requintados surgiam as tradições de cozinha alemã, herdadas da família do Pai, com os deliciosos fritos de batata acompanhados de açúcar ou doce de morango. "Como não engordar, como não engordar?" Na minha ignorância, tentava com muito desporto cortar alguns dos alimentos. Quando, no final dos anos 70, acabei o curso de Medicina, fui mandada lá para o norte da Serra da Estrela fazer o estágio de Saúde Pública. Fui viver para Infias, uma aldeia despegada de Fornos de Algodres - onde a lareira virou fogão e os requeijões frescos me encheram a cara de bochechas. Nesse momento, sentindo que estava na fronteira de desequilíbrio com o peso, decidi cortar as massas! A pós-graduaçao levou-me a Nova Iorque, e a pequena reserva de peso que levava, desapareceu logo na primeira semana de trabalho no hospital. Fora as horríveis refeições hospitalares, o que se comia em casa era o que transportávamos nas nossas memórias: bifes, batatas, saladas, tartes, e até mesmo uns croquetes e bacalhau no forno. Mas escasseava o tempo. A duração excessiva da preparação de alguns dos nossos pratos favoritos tornou-se óbvia. Quando, no início dos anos noventa, voltei para Lisboa conheci a Yuan - a excelente professora do primeiro curso de Chinês na Missão de Macau. Tornou-se uma amiga. Era divertido vê-la funcionar: chegava a casa, entrava na cozinha e daqui a nada já estava! Os ingredientes eram exóticos, bonitos e com paladares variadíssimos. Comprei um wok, uns livros de cozinha e toca a imitá-la. O wok tem a vantagem de ser rápido, pode usar-se pouco óleo, pode servir para cozer a vapor e dá-se bem com especiarias de todo o mundo. Foi então que comecei a interessar-me, não só pela confecção, mas também pêlos aspectos nutritivos do que comia. Finalmente, aprendi que não era a massa que me engordava mas os requeijões gordos de Infías, os bifes com batatas fritas e as sobremesas cheias de ovos e açúcares. O empreendimento de escrever este livro nasceu, não só da minha curiosidade sobre nutrição, mas essencialmente da possibilidade de poder observar e aprender com a bem sucedida eficiência culinária da Mónica. Minnie Freudenthal Índice Glossário Entradas Sopas Peixes e Mariscos Aves Carnes Tofu e Ovos Massas e Arroz Legumes Sobremesas Sugestões de Infusões Consulte uma das receitas deste livro. |
Comprimento | 23 |
Edição | 1 |
Editora | ALMEDINA |
ISBN | 9789724024028 |
Lançamento | 01/01/2004 |
Largura | 16 |
Páginas | 156 |